INFORMAÇÃO ADICIONAL
Em nenhum outro lugar da obra de Nikias Skapinakis a sua mestria fica demonstrada como nesta série de desenhos longos realizados em rolos de papel, ao jeito da pintura chinesa antiga ou do cadrave exquis surrealista.
Estas minuciosas paisagens urdidas a caneta por Nikias foram reproduzidas em serigrafia e valorizadas através de um estojo em bétula que permite guardar o desenho e contemplá-lo, desenrolando-o, ao ritmo de cada um. Um libreto informativo, com ensaios de Bernardo Pinto de Almeida e José-Augusto França, entre outros, completa a obra.
Esta valiosa peça, numerada e assinada pelo mestre Nikias Skapinakis, é ainda um belíssimo e luxuoso objecto decorativo, elegante e enigmático, capaz de sobressair discretamente em qualquer sala ou escritório.
NIKIAS SKAPINAKIS
Autodidata nas artes visuais, filho de pai grego e mãe portuguesa nascido em Lisboa, Nikias Skapinakis é um dos grandes pintores portugueses do século XX.
Frequentou o curso de arquitectura, que abandonou para se dedicar à pintura, actividade que manteve regularmente até 2020.
Começou por expor em 1948, nas Exposições Gerais de Artes Plásticas e, desde então, realizou inúmeras exposições individuais e participou em diversas exposições colectivas, em Portugal e no estrangeiro.
Além da pintura a óleo (a sua actividade dominante), dedicou-se à litografia, serigrafia e ilustração de livros. É autor de um dos painéis do café A Brasileira do Chiado (1971) e participou na execução do painel comemorativo do dia 10 de Junho de 1974.
Em 1985, o Centro de Arte Moderna Fundação Calouste Gulbenkian mostrou uma exposição antológica da sua pintura, completada com uma retrospectiva da sua obra gráfica e guaches na Sociedade Nacional de Belas-Artes, no mesmo ano. Entre as exposições mais importantes estão a do Palácio Galveias (1993, uma antologia de desenhos), a do Museu do Chiado (1996, retrospectiva de retratos, 1955-1974), a do Museu de Arte Contemporânea da Fundação de Serralves (2000, exposição antológica), a do Museu Berardo (2012, exposição antológica) ou a da Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva (2017, paisagens ocultas).
Skapinakis colecionou prémios e condecorações – grau de Comendador da Ordem do Rio Branco, da República Federativa do Brasil, grau de Comendador da Ordem da Fénix, da República da Grécia (1981) ou Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada, da República Portuguesa (2006).
Destaque, ainda, “Nikias Skapinakis: O Teatro dos Outros” (2007), documentário realizado por Jorge Silva Melo sobre o conjunto da sua obra, e para o facto de o seu nome foi incluído no painel do Metropolitano de Lisboa que evoca os presos políticos durante o salazarismo (2019).
CARACTERÍSTICAS
Livro
Impresso a duas cores sobre papel Coral, de 170 gramas Dobrado e cosido “a singer”.
Cilindro
Desenhado pela Coral Books e construído em madeira de bétula pela SPSS. Medidas: 178 x 84 mm.
Serigrafias
Impressas por Teresa Ramalheira na Coperativa Árvore em papel de arroz Wenzhou. Montanhas de Verão IV: 140 x 11 cm. Montanhas de Verão VIII: 240 x 11 cm.
"Os desenhos higiénicos, realizados com caneta, começaram em 1988 com a série de “Mapas Mundo” que passaram a designar-se “Montanhas de Verão” a partir de um encontro no Metropolitan de Nova York com uma série de pinturas chinesas antigas que se desenvolviam em rolos (da direita para a esquerda) e tinham esse título. O meu processo acompanhava o cadavre exquis dos surrealistas, contudo, diferenciava-se, como no caso dos mestres chineses, pelo conhecimento do que estava feito, que excluía o acaso surreal, favorecendo a coerência do discurso paisagístico."
Nikias Skapinakis
"Para os seus desenhos em extensão Nikias usou um outro material, mais fácil de manipular, o papel higiénico. Foi talvez a solução prática para encontrar um suporte (que tende também para o) ‘infinito’. O resultado é, simultaneamente, provocador, semanticamente humorístico (a nível do anedotário)."
João Pinharanda
"O resultado são pois desenhos aparentemente gestualistas, mas todavia contidos, que, no contraste entre negros e branco do papel (higiénico, como não poderia deixar de ser), ensaiam modelos de ritmo e de transcrição quase musical (ou, em todo o caso, processos parentes de uma ideia de notação escrita). Como se a higiene, aqui, constituísse antes de tudo uma atitude destinada a impedir o tal estilo de se fixar, num modo de se distanciar para o plano de uma quase objectualidade, projectando a possibilidade de se poder assistir à emergência do que se poderia designar como o avesso da pintura."
Bernardo Pinto de Almeida